As Figuras de Linguagem, também conhecidas como Figuras de Estilo, tratam-se de recursos estilísticos utilizados para dar mais destaque a comunicação, deixando-a com maior ênfase.

Desse modo, conforme sua atribuição, elas recebem classificação em:

  • Figuras de palavras ou semânticas – estão ligadas a significação das palavras. Ex. Catacrese, comparação, metonímia, sinestesia, metáfora e perífrase.
  • Figuras de pensamento – lidam com a conciliação de pensamentos e ideias. Ex. Ironia, antítese, eufemismo, paradoxo, apóstrofe, hipérbole, gradação, litote, personificação.
  • Figuras de sintaxe ou construção – atuam na estrutura gramatical da oração. Ex. Assíndeto, pleonasmo, silepse, zeugma, anacoluto, polissíndeto, anáfora, elipse, hipérbato.
  • Figuras de som ou harmonia – estão relacionadas à sonoridade dos termos. Ex. Assonância, aliteração, onomatopeia, paronomásia.

Qual a importância da figura de linguagem na língua portuguesa?

Na língua portuguesa, as figuras de linguagem são artifícios linguísticos muito buscados pelos autores que recorrem a elas para deixarem suas obras mais ricas e expressivas.

Assim, esses recursos expressam a emoção de seus usuários, revelando particularidades estilísticas do escritor da linguagem. Além disso, as figuras de linguagem expõem também:

  • O pensamento de maneira criativa e original;
  • Analisam o sentido não literal dos termos;
  • Reforçam a sonoridade de frases e vocábulos;
  • Entrosam sentenças, deslocando-as de uma estrutura gramatical padrão. Visando dar ênfase em algum de seus componentes.

Como citado antes, as figuras de linguagem habitualmente recebem a classificação em figuras de construção, figuras de som e figuras de palavras ou semântica, mas para que a utilização da figura de linguagem seja dominada de forma correta, é necessário conhecer os conceitos de conotação e denotação.

O que são denotação e conotação?

A denotação acontece quando a palavra é usada no seu sentido literal, usual, retratando uma realidade imaginária ou concreta.

Ex. 

Já é a segunda vez que perco a senha do meu computador

Aquela fruta estava muito amarga, não gostei.

Em oposição, a conotação acontece quando a palavra é utilizada no sentido associativo, figurado, abrindo brechas para diversas interpretações. Sendo assim, o sentido conotativo possui a capacidade de dar aos termos significados distintos de sua definição original.

Ex. 

A senha da questão é você ser alegre independente da semana.

Eliana é uma mulher amarga, está sempre de mal humor.

Dessa forma, pode-se perceber que as palavras senha e amarga recebem novos significados além daqueles achados nos dicionários. Contudo, o sentido dos termos está em conformidade com a ideia que o emissor quis passar. Portanto, a conotação trata-se de um recurso com a finalidade de atribuir novas interpretações ao sentido denotativo da palavra.

A plurissignificação

As figuras de linguagem são maneiras de expressão que diferem da linguagem denotativa ou comum. Desse modo, elas dão ao texto uma identificação que ultrapassa o sentido literal, permitindo assim uma plurissignificação do enunciado.

Portanto, a figura de linguagem é uma maneira de expressão que se afasta das normas da linguagem denotativa, tornando-se plurissignificativa. Ou seja, quando uma figura de linguagem é aplicada, o enunciador permite uma interpretação para seu enunciado que vai além do sentido original, este ligado a uma leitura literal dos fatos, não dedutiva.

Ex. A flor berrou de tristeza.

Nesse exemplo, o significado denotativo de origem é que uma flor berrou com a boca porque estava triste. No entanto, é sabido que uma flor não  possui boca, e portanto, não pode berrar.

Assim, essa sentença se distancia das regras da linguagem denotativa para tomar outra definição. Desse modo, o fato da flor berrar demonstra o quanto determinada ocorrência é triste. É tão drástica que até uma flor poderia berrar. Então, nesse exemplo, a flor foi personificada, sendo tratada como se fosse um ser humano, capaz de sentir tristeza e berrar.

Quais são as principais figuras de linguagem?

Como visto acima, as figuras de linguagem representam “fugas” discursivas da língua, pois nem sempre se pode descrever uma ideia de forma literal. Desse modo, a criatividade humana possibilita uma comunicação fluída que não se adapta a realidade palpável e a literalidade do mundo.  

Por isso, para que todas as probabilidades sejam alcançadas, as figuras de linguagem englobam gêneros distintos, onde cada uma dessas classificações têm subdivisões específicas, cada qual com uma função diferente para que seja permitida a expressão das mais diversas intenções dos enunciadores.

Assim, as principais figuras de linguagem são:

Metáfora –

  • essa figura ocorre quando uma comparação qualquer é feita sem usar expressões que indiquem que uma comparação está sendo realizada, (“parece”, “como”, “tanto quanto”, entre outras).

Ex. Você tem um coração de ouro.

No exemplo, a metáfora serve para indicar que alguém possui um coração tão bom e valioso quanto ouro.

Catacrese –

  • acontece quando não há uma palavra específica para definir algo, sendo necessário o uso de outros termos para suprir essa falta.

Ex. Pedi um lanche, mas sem dente de alho.

Não existe uma palavra específica para determinar tal parte do alho, e por isso, toma-se “dente” emprestado para defini-la.

Prosopopeia (personificação) –

  • a prosopopeia acontece quando são atribuídos aspectos humanos a sentimentos ou objetos.

Ex. A xícara pulsava em minhas mãos, quase como se quisesse saltar.

Nesse exemplo, uma xícara cria vida própria nas mãos de sua dona, a ponto de pulsar e desejar saltar.

Sinestesia –

  • acontece quando constitui-se uma expressão de mistura entre duas sensações distintas daquelas percebidas pelos órgãos sensoriais.

Ex. Tinha olhos bem verdes, frios e amargos.

Na sentença, há a mistura da visão (“bem verdes”), com o tato (“frios”) e o paladar (“amargos”) para descrever os olhos de alguém.

Gradação –

  • acontece quando se usa uma sequência de termos que intensificam uma ideia.

Ex. Estava muito quente, assando, uma temperatura infernal.

Aqui, tem-se a gradação na descrição do calor, intensificando a ideia de que a temperatura está realmente alta.

Metonímia –

  • acontece quando se troca um termo por outro. Essa mudança, contudo, é realizada pela proximidade de referências entre as duas palavras.

Ex. Tomou o copo todo.

No exemplo, o “copo” substitui o termo bebida, que estava dentro do copo. Entretanto, a metonímia também ocorre com a ocultação de palavras, subentendidas por outras.

Ex. Adoro ouvir Beatles.

Assim, Beatles é o termo equivalente a: música dos Beatles.

Ironia –

  • acontece quando uma ideia é expressada através de uma construção que diz o contrário do que se deseja dizer de fato.

Ex. Não para de chover: que ótimo dia para pegar sol.

Hipérbole –

  • corresponde a utilização proposital de expressões bastante exageradas para construção de uma ideia.

Ex. Estou te esperando há centenas de anos!

A expressão “há centenas de anos” é exagerada para simbolizar o quanto estava esperando.

Eufemismo –

  • acontece quando se usa expressões para atenuar uma ideia considerada desagradável ou agressiva.

Ex. Ele estava muito enfermo e acabou a sete palmos.

A expressão “ a sete palmos” pode ser equiparada a “morrer”, tentando expressar o ocorrido de forma mais amena.

Antítese –

  • a antítese ocorre quando são usadas duas ideias ou palavras com significação contrária.

Ex. A vida é assim, cheia de tristezas e alegrias.

Na oração, “tristezas” e “alegrias” são ideias contrárias, porém usadas em conjunto para expressar as emoções que acontecem na vida.

Paradoxo –

  • o paradoxo acontece quando duas expressões contrárias são usadas de forma que foge à lógica.

Ex. Ele estava triste, mas feliz por tudo que ocorrera.

Não faz sentido alguém estar triste e feliz ao mesmo tempo, acontecendo assim, um paradoxo.

Onomatopeia –

  • é a tentativa de reproduzir barulhos e sons através da escrita. Sendo bastante comum em revistas em quadrinhos e ilustrações.

Ex. Derrubou o copo enquanto enxugava o prato: Crash!

“Do berro, do berro que o gato deu: miau!” (Cantiga popular)

No exemplo acima, “crash” tenta reproduzir por meio da escrita o som do copo quebrando, onde por sua vez “miau” tenta reproduzir o miado do gato.

Paranomásia –

  • é a aproximação de termos com sons parecidos, porém com significações distintas.

Ex. “Conhecer as manhas e as manhãs

O sabor das massas e das maçãs

(Almir Sater e Renato Teixeira)

Como pode-se observar, acontece paranomásia nas palavras “manhas” e “manhãs”, “massas” e “maçãs”.

Figuras de linguagem resumidas

Veja a seguir, a diferença entre cada uma das figuras de linguagem, assim como seus tipos.

Figuras de palavras ou semânticasFiguras de pensamentoFiguras de sintaxe ou construçãoFiguras de som ou harmonia.
Fabricam mais expressividade à comunicação por meio das palavras.Dão mais expressividade à comunicação por meio do arranjo de pensamentos e ideias.Colocam mais expressividade à comunicação por meio da repetição, omissão ou imersão das palavras na construção das frases.Produzem maior expressividade à comunicação por meio da sonoridade.
metáfora
catacrese
comparação
perífrase ou antonomásia
metonímia
sinestesia
hipérbole
paradoxo ou oxímoro
litote
apóstrofe
ironia
eufemismo
personificação ou prosopopeia
antítese
gradação ou clímax
assíndeto
elipse
pleonasmo
silepse
zeugma
hipérbato
polissíndeto
anáfora
anacoluto
assonância
aliteração
onomatopeia
paronomásia

Figuras de palavras ou semântica:

Comparação: vínculo de comparação entre duas ou mais palavras, separadas por conjunção.

Metáfora: comparação subentendida entre duas ou mais palavras.

Metonímia: troca de uma palavra por outra semelhante.

Catacrese: aplicação errante de uma palavra devido à perda de seu sentido de origem.

Perífrase ou antonomásia: troca de uma palavra por outra que a caracterize.

Sinestesia: arranjo de dois ou mais sentidos do corpo humano.

Figuras de sintaxe ou construção:

Elipse: omissão de expressão ou palavra na estrutura do enunciado.

Zeugma: ocultação de uma palavra mencionada antes.

Anáfora: reincidência de um ou mais termos no começo das orações ou versos.

Pleonasmo: utilização de palavra dispensável para dar ênfase a uma ideia definida.

Anacoluto: falta de ligação sintática entre o começo de uma frase e o decorrer de ideias.

Silepse: concordância ideológica.

Hipérbato: mudança da ordem direta dos componentes de um período ou oração.

Polissíndeto: recorrência da conjunção “e”.

Figuras de pensamento:

Hipérbole: exagero ou excesso na declaração.

Litotes: afirmação efetuada pela negação do contrário.

Eufemismo: expressões ou palavras amáveis para suavizar a declaração.

Ironia: recomendar o contrário do que se diz.

Prosopopeia: personificação.

Antítese: oposição entre ideias, palavras ou expressões.

Paradoxo ou oximoro: antítese que expõe uma contradição.

Apóstrofe: interrupção da oração para invocar ou interpelar.

Gradação: sequência de ideias.

Figuras de som ou harmonia:

Aliteração: reincidência de sílabas ou consoantes.

Assonância: repetição de vogais.

Onomatopeia: termo cuja sonoridade está relacionada à coisa que representa.

Paronomásia: termos semelhantes, mas com som, significado e grafia diferentes.

Exercícios Resolvidos

Questão 1 – A prosopopeia, figura que se observa no verso “Sinto o canto da noite na boca do vento”, ocorre em:

a) “A vida é uma ópera e uma grande ópera.”

b) “Ao cabo tão bem chamado, por Camões, de Tormentório, os portugueses apelidaram-no de Boa Esperança.”

c) “Uma talhada de melancia, com seus alegres caroços.”

d) “Oh! Eu quero viver, beber perfumes, na flor silvestre, que embalsama os ares.”

e) “A felicidade é como a pluma…”

Resolução

Alternativa c, pois caroços não possuem a característica humana da alegria.

Questão 2 – Leia os versos e depois assinale a alternativa correta:

“Amo do nauta o doloroso grito

Em frágil prancha sobre o mar de horrores,

Porque meu seio se tornou pedra,

Porque minh’alma descorou de dores.” (Fagundes Varela)

No primeiro verso, há uma figura que se traduz por:

a) pleonasmo

b) hipérbato

c) gradação

d) anacoluto

e) anáfora

Resolução

Alternativa b, hipérbato. No primeiro verso do poema “amo do nauta o doloroso grito”, pode-se perceber a mudança brusca da posição normal dos termos, que seria “amo o grito doloroso do nauta”. Esta alteração brusca em termos, palavras ou orações, é chamada de hipérbato, e habitualmente é usada em poemas para ajustar a métrica ou a rima, ou como um efeito estilístico.

Questão 3 – Nos versos abaixo, uma figura se ergue graças ao conflito de duas visões antagônicas:

“Saio do hotel com quatro olhos,

– Dois do presente,

– Dois do passado.”

Esta figura de linguagem recebe o nome de:

a) metonímia

b) catacrese

c) hipérbole

d) antítese

e) hipérbato

Resolução

Alternativa d, é a antítese. As ideias opostas presentes no trecho do poema apresentado no enunciado da questão são as ideias de “presente” e “passado”.