O ginasta Diego Hypólito, na Olimpíada de Pequim, após liderar a fase de classificação, era favorito ao ouro. Contudo, na decisiva fase, caiu com a conjuminância retroativa (nádegas) esparramada ao solo. Na Olimpíada de Londres, o tombo foi de barriga. Sim, ele terminou sua apresentação em um incômodo decúbito ventral. Depois de mais um fracasso, vieram as desculpas.
Não é o vento, não é a cultura brasileira voltada para a criação da raça canina, nem as hilárias desculpas que se ouvem por aí, mas sim a falta de equilíbrio emocional que faz nossos atletas tremerem, mormente quando disputam competições que chamam a atenção do mundo, como Copa do Mundo e Olimpíada.
Qualquer ser humano está propenso a embaraços emocionais (o brasileiro com intensidade maior), é por isso que o psicólogo americano Daniel Goleman sugere que a inteligência emocional seja matéria obrigatória nas escolas. Para Goleman, inteligência emocional “é a capacidade de criar motivações para si próprio e de persistir em um objetivo apesar dos percalços; de controlar impulsos e saber aguardar pela satisfação de seus desejos; de se manter em bom estado de espírito e de impedir que a ansiedade interfira na capacidade de raciocinar; de ser empá¬tico e autoconfiante.”
Os competidores brasileiros sabem buscar motivação e persistir nos objetivos; porém é raro quem saiba evitar que a ansiedade interfira no desempenho. Essa deficiência é notória; por isso, inúmeras competições foram perdidas, embora eles fossem favoritos. No futebol, se não fosse o desequilíbrio emocional, o Brasil já teria ganhado mais de dez Copas do Mundo.
O problema costuma atacar os favoritos, porque se trata de abalo emocional decorrente do medo de perder. A pessoa fica tão ansiosa para ganhar que morre de medo de perder e acaba “amarelando” na hora da disputa. Conheço bem o problema porque tive de enfrentá-lo e superá-lo. No meu caso, a competição não era esportiva, mas intelectual: competição nos concursos públicos.
A competição nos concursos, nesse particular, é igual às competições esportivas (no primeiro concurso fui reprovado quatro vezes seguidas. Depois que passei a controlar os nervos, minha performance mudou completamente). Nos concursos, assim como em qualquer competição, a tranquilidade na hora do exame é fundamental, pois o embaraço emocional prejudica o raciocínio, instrumento indispensável para o êxito na empreitada.
Para superar o problema desenvolvi duas estratégias dentro do contexto da inteligência emocional. A primeira denominei de estratégia mental defensiva, que consiste no treinamento mental que valoriza as coisas boas e relativiza as ruins. É que a vida é constituída por coisas boas e ruins. A estratégia mental defensiva valoriza as coisas boas e minimiza ao máximo as ruins. Dessa forma, a pessoa consegue superar problemas como morte na família, doenças, prejuízos, acidentes, perseguições etc. sem se abalar e, com isso, não abandona o seu objetivo.
A estratégia mental defensiva é essencial na fase da preparação para a competição. Seu implemento neutraliza os problemas para não interferirem no treinamento (estudos, exercícios etc.). A outra estratégia que adoto é a mental ofensiva. Esta tem por escopo tranquilizar o competidor na hora da disputa, pois elimina o medo de perder. Como visto, é o medo da derrota que faz o competidor ficar nervoso. É esse medo que atormenta nossos atletas, levando-os ao fracasso, quando tinham tudo para vencer. O mesmo acontece com muitos concurseiros.
Eles se preparam intensamente, mas na hora da prova “amarelam” e perdem a vaga para candidatos que nem estavam bem preparados. Passei em primeiro lugar em concursos que não tive tempo e nem oportunidade para me preparar melhor. Sei que havia candidatos melhores preparados, todavia, na hora da prova eu os superei, pois não sofria interferência dos nervos. É que o implemento da estratégia mental ofensiva proporciona o trabalho com a cabeça (neurônios) e não com os nervos. Por falar em cabeça, o medalhista de ouro nas argolas (Olimpíada de Londres), Arthur Zanetti, declarou: “Cabeça é o que faz a diferença entre o campeão e os outros.”
As estratégias mentais funcionam de verdade, permitindo ao indivíduo o controle emocional em qualquer situação. Por isso, no meu livro De Faxineiro a Procurador da República, reservo boa parte para explicar como implementá-las. Ensino que o competidor (atleta ou concurseiro) precisa ser “frio e calculista” (no bom sentido). Não deve se abater com os percalços e nem “amarelar” na hora da competição.
Além de o brasileiro ser emotivo por natureza, diferentemente, por exemplo, do alemão, é raro quem sabe dominar a emoção. Vi declaração de ex-atleta brasileiro que se tornou comentarista dizendo que não sabia o que fazer no dia anterior à importante competição. Sofria com ansiedade até a hora da disputa. Já vi treinadores dando ordens a seus atletas em absoluto descompasso com os princípios norteadores do controle emocional.
Pelo resultado que se vê no comportamento dos atletas brasileiros, os profissionais (psicólogos etc.) a serviço deles não têm obtido êxito, basta ver que é raro algum atleta que domina a emoção. Por exemplo, foi destaque na imprensa a “frieza” da judoca piauiense Sarah Menezes, medalha de ouro em Londres. Comportamento desse jaez deveria ser regra entre os atletas de alto nível, pois quem compete para vencer tem que ser “frio e calculista”, ter controle efetivo sobre as emoções. Não adianta só a preparação física e/ou intelectual, é imprescindível a preparação emocional. A necessidade de dominar as emoções não se limita a quem participa de competições esportivas ou concursos públicos, mas a todos que vivem em sociedade. Afinal, nas relações sociais passamos por diversas situações que reclamam domínio da emoção, é por isso que Daniel Goleman sugere que a inteligência emocional seja matéria obrigatória nas escolas.
Dominando as emoções, convivemos bem com os altos e baixos da vida. Ademais, enfrentamos o perigo com coragem, porquanto o medo é uma emoção negativa que deve ser controlada; caso contrário, nos acovardamos, seja “amarelando” na hora de uma competição, seja fugindo ou recuando diante de qualquer sinal de perigo.
Manoel Pastana
Autor do livro autobiográfico De Faxineiro a Procurador da República
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